Uma viagem no tempo

Published on 1 January 2025 at 23:26

Do Natal e Ano Novo ao Solstício de Inverno e Yule...

 

Tendo sido criada numa cultura católica, nunca soube nada de diferente sobre as festividades de Dezembro, por isso simplesmente aceitei tudo... ano após ano...

 

Mas algo dentro de mim nunca estava bem... e nunca consegui descobrir o que era?!?

Mal sabia eu que este era apenas o início de outra viagem... mais um capítulo da minha vida; a recuperação de mais uma peça do puzzle da minha Alma ✨️

 

Porque me sentia eu tão perdida e confusa durante a 'época mais maravilhosa do ano'? Como é que era possível não sentir qualquer sensação de alegria? Porque é que os anúncios da TV me irritavam? Porque é que não ficava entusiasmada com as festas de Ano Novo como o resto da minha família?

 

Estaria eu 'quebrada'? Não, espera... talvez deprimida? Porque é que eu não era como 'toda a gente'?

 

Poucos anos depois, encontro-me com 40 anos, profundamente feliz e a acordar com um sorriso de orelha a orelha, na manhã do dia 25 de Dezembro! Não... Não havia presentes na árvore à minha espera! Nenhum!

 

Então... o que é que mudou? E mais importante, como???

 

Durante anos, lutei contra o transtorno afetivo sazonal (TAS) e não percebi o que era até ler um artigo numa revista que, como um milagre, descrevia todos os meus 'sintomas'!

'É isto! Agora já sei porque passo por episódios de profunda tristeza, apesar de estar feliz com a minha vida!

'Já sei o que vai ajudar... férias ao sol durante os meses de Inverno, pumba! Problema resolvido' πŸ™Œ

 

Só que... não aconteceu tal e qual como planeado! Regressava sempre das férias a sentir-me mais vazia do que quando ia... e caía sempre numa profunda depressão pós-férias. Uma gruta ainda mais escura que a da TAS!

 

Mas lentamente... com o passar dos anos as coisas começaram a mudar e novos sentimentos e pensamentos apareceram...

Sem me aperceber, mergulhei a fundo na busca de formas de superar aquela sensação de tristeza. Para além de começar a suplementar com vitamina D durante os meses de Inverno, aprender sobre o Hygge mudou a minha vida.

 

Sem me aperceber, acabei por encontrar conforto em honrar cada estação.

Adotei novos rituais e rotinas, como mudar a decoração da casa e usar mantas e almofadas macias/quentes no Outono/Inverno e leves/frescas na Primavera/Verão; acender velas naturais; ter mais plantas por perto, etc.

Mas o que realmente foi transformador foi de facto, a ACEITAÇÃO! Aceitar cada estação como ela é em vez de lutar, resistir e agir como se fosse Verão durante todo o ano!

 

É aqui que a maioria de nós falha... vivemos na ilusão de que temos a energia do Verão a todo o momento! Mas aqui fica uma dica... Não temos!!! Não é humanamente possível!!!

 

Só quando começamos a conectar-nos com a natureza e a prestar atenção ao que ela nos pode ensinar é que podemos encontrar a verdadeira paz e contentamento interior.

 

Vamos dar uma volta pelo caminho desta estação, pode ser? Sigam-me...

 

Era uma vez... antes da Cristianização e do Natal se tornar uma celebração, os nossos antepassados ​​viviam as suas vidas mais conectados e em sintonia com a natureza.

 

As celebrações naquela época giravam em torno da roda do ano. O Yule e o Solstício de Inverno envolveriam alguma forma de ritual baseado na natureza para homenagear a estação e o regresso da luz solar, uma vez que as noites se tornam mais curtas para dar lugar a dias mais longos.

 

O Yule ensina-nos a honrar os ciclos da vida: o nascimento e a morte. Mostra-nos o caminho para a esperança e para a luz e guia-nos em direção ao calor das estações que se avizinham.

 

Mas o que mais adoro mais, e ao contrário do que todos parecem estar a fazer durante esta altura do ano, é que é um momento para encontrar tranquilidade, refletir sobre o ano que passou e continuar a cuidar das 'sementes' da gratidão.

 

Quando olho em redor e vejo toda a correria e stress envolvidos nas festividades de Natal, não posso deixar de sentir que isto não podia estar mais longe da essência do Yule: um momento para abrandar e mergulhar para dentro, deixar brilhar as nossas luzes interiores apesar da escuridão lá fora.

 

Quanto mais aprendia sobre o Yule, mais interessada e fascinada ficava, e de certa forma uma luz dentro de mim começou a brilhar mais intensamente.

 

Até as atuais tradições natalícias, como decorar árvores, usar azevinho e fazer coroas, eram originalmente uma parte importante das celebrações e rituais do Yule. Nessa época, porém, tinham um significado profundo, pois estes itens apanhados na natureza simbolizavam naturalmente proteção, amor e renascimento, entre outros.

 

De repente, tudo começou a fazer sentido e senti uma sensação de pertença. Uma nova lufada de ar fresco e revigorante estava a encher-me a alma.

 

Enquanto o Natal sempre me deixou esgotada, stressada e com sentimentos de culpa em relação aos presentes ('não são o suficiente... são demais... esqueci-me de alguém...'), o Yule, por outro lado, faz-me sentir revigorada e conectada.

Agora sinto uma profunda necessidade de trazer de volta as tradições e os rituais e celebrar a natureza em vez do Natal comercial que passa à minha volta. E também não consigo parar de me questionar... se Jesus não nasceu de facto no dia 25 de Dezembro e o Pai Natal não é real... o que tenho celebrado exatamente todos estes anos?

Se o mais importante para mim é realmente passar tempo com a família, então a antiga roda do ano não só faz mais sentido, como também nos dá ainda mais datas para celebrar... parece-me ser uma situação vantajosa!

 

Há outro aspecto que não me agrada, o consumismo excessivo e o desperdício incontrolável, as toneladas de coisas compradas só por comprar, todos os embrulhos, postais, embalagens,etc ... isto é simplesmente demais quando o nosso lindo planeta já está a sufocar com tanta coisa!

 

Então, simplesmente virei as costas a este caminho e fui-me embora??? Não, não fiz isso... só tive de encontrar o meu caminho do meio mais uma vez...

 

O primeiro passo no meu novo trajeto é permanecer fiel a mim mesma e aos meus valores, e ao mesmo tempo aceitar e respeitar os das outras pessoas.

 

Adoro a minha família e passar tempo com todos, por isso é claro que continuarei a festejar com eles na véspera e no dia de Natal e adorarei vê-los felizes a celebrarem à sua maneira, mas só porque fazem as coisas de uma certa forma 'tradicional', não significa que eu tenha de fazer o mesmo.

 

Também estou muito consciente de que, enquanto humanos neste planeta, sem dúvida criaremos algum tipo de desperdício durante a nossa vida e precisaremos sempre de comprar coisas. Acredito também que parte da nossa experiência no planeta Terra e de termos nascido nesta parte do mundo, vem com um certo nível de 'experiências materiais'.

No entanto, sinto que se todos aprendêssemos a comprar com consciência e artigos de qualidade em vez de quantidade, faríamos uma grande diferença.

 

E em relação às celebrações e promessas de ano novo... Eu só quero mesmo é passar a noite de 31 de Dezembro confortável em casa e de pijama!

 

Quem é que achou que seria uma boa ideia dar inicio às promessas de ano novo em Janeiro? Esta nunca me pareceu uma boa altura do ano para começar algo novo?! Basta olhar à nossa volta e observar os animais e a natureza... Os animais hibernam ou abrandam para poupar energia; a natureza 'para de crescer' e espera pela Primavera para dar origem a uma nova vida! Nós, humanos, decidimos adotar uma nova rotina de exercício físico louca e começar novos projetos e depois questionámo-nos porque é que 'falhamos' em poucas semanas... Não, não é porque as pessoas não têm autodisciplina! É mesmo porque estão a 'nadar contra a corrente'.

 

Com dezenas e dezenas de calendários na história da civilização, este é certamente um trajeto cheio de curvas que me deixa tonta! Eu cá vou seguir o caminho mais fácil e manter as coisas simples e optar por seguir a antiga roda do ano.

E quanto às grandes celebrações? Os aniversários sempre foram os meus preferidos, pois afinal posso celebrar a vida e o tempo que passei neste planeta!

 

Seja qual for o caminho que escolherem seguir... que seja repleto de muitas bênçãos, gratidão, amor e alegria.

 

Sara πŸ’™

 

“Mas esta sombra tem vindo a ajudar-te!
O que te magoa, abençoa-te.
A escuridão é a tua vela.
Os teus limites são a tua busca.
Deves ter ambas, fontes de sombra e de luz.
Escuta, e deita a cabeça sob a árvore da admiração.”

-Rumi

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